Durante quatro minutos e 49 segundos, podemos identificar, neste vídeo em canal único em preto e branco, uma sucessão de cifras em loop que emana da inconfundível voz do comandante Fidel Castro. Nesta obra de José Toirac, a retórica interminável, até praticamente a extenuação física e psicológica do ouvinte, emitida a partir do discurso paternalista do poder, fica reduzida a um tipo de ilusão minimalista sonoro-numérica não isenta, como é habitual na obra desse artista, de certas doses de humor. O inacabável discurso político é despojado de todos os seus elementos de conteúdo para, em um processo de desconstrução e síntese, ser reduzido pelo artista a apenas uma litania de cifras incessante, um mantra adormecedor de dados, impossíveis de comprovar, e que supostamente pretende produzir no ouvinte – o espectador – um estado de certo sossego diante da incerteza de seu presente e de seu futuro. A impossibilidade de verificação de todos esses dados, emitidos como mera propaganda política, faz com que, em última instância, e como bem assinala o próprio artista, eles apenas possam ser assumidos como verdadeiros por um mero ato de fé. As cifras, os dados emitidos então a partir das instâncias de poder, se transformam em uma nova forma de religião.
Orlando Britto Jinorio, 2014
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